26 de jan. de 2010

Era uma vez o Encontro Cultural de Propriá

População reage indignada com programação da Festa do Bom Jesus dos Navegantes, em que exclui o XXV Encontro Cultural
Por Claudomir Tavares * | claudomir@tribunadapraia.net

Há uns quinze dias atrás, quando buscávamos junto a prefeitura de Propriá e secretaria Paroquial as respectivas programações cultural, social e religiosa, anunciávamos que faríamos anunciar com total exclusividade neste portal aos nossos leitores, como temos feito desde 2005. Chegamos a anunciar que nos próximos dias divulgaríamos a programação da Festa do Bom Jesus dos Navegantes e XXV Encontro Cultural de Propriá. E afirmávamos com tanta certeza pois em uma reunião da ONG Karranka, realizada no mês de agosto de 2009 na Diretoria Regional de Educação (DRE’ 06), o secretário municipal de Cultura e Meio Ambiente, professor Martinho José da Silva, afirmava peremptoriamente que o Encontro Municipal, previsto para ser realizado em setembro daquele ano, seria realizado junto com a Festa do Bom Jesus dos Navegantes em janeiro de 2010.

O secretário afirmava que aquela era uma decisão do prefeito Paulo Britto (PT), que remanejou o encontro desde 2008 para uma outra data, para garantir os recursos necessários a sua realização. A reação de artistas e intelectuais naquele momento foi de mais completa indignação, pois esta garantia do prefeito de que o Encontro seria realizado junto com a Festa de Santo Antônio, padroeiro da cidade, como ocorreu em 2008, também seria feito em 2009. Adiou para setembro e depois frustrou a todos com a informação que os pegou de surpresa.

Integrantes da Karrankas chegaram a ventilar a idéia de chamar para a comunidade artista a responsabilidade de não deixar passar em branco um ano, o primeiro desde 1994, sem realizar o Encontro. Depois, em função do exímio tempo que restava, declinaram para a proposta de realizar o I Circuito Cultural da Karrankas. Infelizmente a idéia não pode ser concretizada, pois o grupo não viabilizou as condicionantes necessárias a sua realização. Nos ‘rendemos’ e aguardávamos, então, que pelo menos desta vez a administração municipal realizasse o XXV Encontro Cultural de Propriá, novamente concomitantemente com a Festa do Bom Jesus dos Navegantes, o que parece ser uma unanimidade na cidade de que nunca deveriam ter promovido o desmembramento, que no imaginário popular, é o fim do evento.

Na cidade a população que até o dia 16 aguardava com ansiedade a programação da Festa e Encontro, foi surpreendida quando a Tribuna da Praia divulgou com absoluta exclusividade, depois de conseguir junto ao secretário Charles Francisco de Souza (Desenvolvimento Econômico, Geração de Emprego e Renda e do Turismo), a Programação Artística (ou social). Naquele dia informávamos que o prefeito Paulo Britto havia decidido, pelo terceiro ano consecutivo, não realizar o Encontro Cultural paralelo a Festa do Bom Jesus dos Navegantes. No dia 19, divulgamos a programação completa (Religiosa – Cívica, Ecológica e Esportiva – Artística), a partir de um contato com o professor Martinho José da Silva, secretário municipal de Cultura e Meio Ambiente.

Os demais meios de comunicação, inclusive o Portal da Prefeitura, só veio divulgar a programação a partir de 20 de janeiro, os da capital, a partir do dia 21. Estava aí a prova inequívoca do nosso compromisso com as manifestações culturais de nossa gente. Mas voltaremos no final da Coluna ‘Fique de Olho’ de hoje a falar da importância do Encontro Cultural de Propriá e dos prejuízos que a sua não realização acarretam a Princesinha do São Francisco.

:: PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE

A cidade de São Cristóvão, distante 17 km de Aracaju, está em campanha para transformar a Praça São Francisco, um dos mais belos conjuntos coloniais brasileiros, em Patrimônio da Humanidade, reconhecimento que depende da chancela da UNESCO, organismo das Nações Unidas para proteção do patrimônio cultural. A campanha envolve importantes segmentos da sociedade sergipana, aos quais nos incluímos. Mas o próprio poder público de São Cristóvão poderia ter feito sua parte, ao não manter a regularidade do Festival de Arte de São Cristóvão (FASC), criado em 1972 (como parte das comemorações pela passagem dos 150 anos da independência do Brasil) pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), e hoje corre atrás do prejuízo. Não se exemplou e novamente em 2009 deixou de realizar o Encontro. Os motivos, alegam, são as constantes ondas de instabilidades que tem vitimado o município. O último foi realizado em 2005, pelo ex-prefeito José Correia, o Zezinho da Everest (PTB), afastado do cargo em 2007 e falecido em circunstâncias nunca totalmente esclarecidas em 2008.

:: PATRIMÔNIO CULTURAL COMO PILAR PARA O DESENVOLVIMENTO

Recentemente (07 a 10/01) a cidade de Laranjeiras realizou com grande efervescência seu XXXV Encontro Cultural de Laranjeiras, ocasião em que discutiu a importância do Patrimônio Cultural como pilar para o desenvolvimento. O Encontro surgiu em 1976, numa parceria entre o Ministério da Cultura e o Governo de Sergipe, como forma de fortalecer as manifestações da cultura popular, com forte apelo cultural para o folclore, do qual a cidade é uma das mais representativas expressões. Laranjeiras realiza o evento de forma ininterrupta sempre concomitante com a Festa de Santos Reis, tradição no município.

:: CULTURA E MEIO AMBIENTE

Em 1991, o Projeto Tamar e a comunidade de Pirambu criaram o Culturarte (Encontro de Cultura e Arte de Pirambu). É umas das principais atividades de preservação e valorização cultural apoiadas pelo Tamar em Sergipe. Trata-se de uma grande mostra anual de eventos que alia tradições culturais ao programa de conservação das tartarugas marinhas. Foi criado com o objetivo de fomentar a educação ambiental através da arte, reunindo a comunidade, turistas e visitantes das cidades vizinhas. Em 2009 (18 a 20/12) aconteceu a 19ª edição, homenageando um dos mestres do folclore local, o Grande Constantino (Lariô da Tartaruga), falecido em abril de 2009. Isso aconteceu nos anos anteriores, sempre homenageando no cortejo folclórico um dos mestres que foi se juntar ao Grande Pai, deixando lições inapagáveis.

:: UM ENCONTRO PARA O SENHOR DOS LABIRINTOS

Arthur Bispo do Rosário (1909-1989), o ‘Senhor dos Labirintos’, é considerado pela crítica como um dos principais artistas brasileiros do século XX, saudado nacional e internacionalmente, mas apreciado por um público ainda restrito a artistas e intelectuais. A prefeitura municipal de Japaratuba, em um reconhecimento ainda que tardio, criou em 2002 um Festival de Artes que leva o nome do gênio universal das artes plásticas. Em 2009 o município dedicou as atividades culturais e artistas desenvolvidas pelo poder público ao Centenário do Bispo, depois de 20 anos de sua passagem para o outro plano. Chegou em 2010 a sua nona edição, crescendo e consolidando-se a cada ano. É realizado dentro e ao concomitante com a Festa de Santos Reis (07 a 10/01), iniciando no dia em que esta encerra-se com a coroação dos reis e rainhas do Cacumbi e do Maracatu, prosseguindo até o dia 14, véspera da Festa das Cabadinhas (15 a 17/01).

:: A IMPORTÂNCIA DOS ENCONTROS CULTURAIS

Outras cidades sergipanas realizam anualmente seus encontros, festivais e mostras culturais, sempre com a motivação de promover e resgatar as manifestações artistas e culturais endêmicas daquelas comunidades ou presentes entre eles, fruto de heranças, tradições que se pretendem perpetuarem-se entre as gerações presentes e futuras. É o caso de Japoatã, Neópolis, Gararu, Graccho Cardoso, Itaporanga, Santo Amaro das Brotas e mais recentemente Santana do São Francisco. Esta última descobriu no período da Festa de Bom Jesus dos Navegantes (13 a 17/01) um período importante e estratégico do ponto de vista cultural, turístico e econômico para aliar a tradicional festa dos santos das águas, ao potencial artístico da cidade, que vai do artesanato/fator econômico ao samba-de-coco/fator cultural, entre outros elementos visíveis naquela manifestação da cultura sergipana.

:: O FANTÁSTICO PROJETO CHAMADO ENCONTRO CULTURAL

Surgido em 1984, das entranhas do desativado CSU (Centro Social Urbano), a época sob a responsabilidade da senhora Maria das Graças Nascimento (Dona Menininha), nos anos seguintes o Encontro Cultural foi encampado não só pelo poder público, como e principalmente pela sociedade, que se apropriou de um produto que ela se identificava. Uma de suas idealizadoras, a professora Tereza Cariri disse em postagem no Mural de Recados da Tribuna da Praia que “realmente não dá pra continuar calada (...) Caros conterrâneos sinto muito... Confesso saudades!!!”, desabava a professora e uma das principais personagens do universo cultural nos anos 80 em Propriá.

:: NÃO SE JUSTIFICA

Enquanto aos demais municípios sergipanos têm encontrado nos encontros e festivais culturais uma alavanca para o desenvolvimento sócio-cultural, como fomento para a economia da cultura e o turismo cultural, o município de própria alega que o desmembramento tem como objetivo proporcionar uma nova data no calendário cultural do município. Assim, defendemos que esta proposta seja dialogada com a sociedade, em um Simpósio ou Seminário, mas um fórum dentro do próprio Encontro Cultural. Este debate, a construção do Encontro Cultural, deveria ter integrado a pauta do 1º Seminário Municipal de Cultura (22/08) ou 1ª Conferência Municipal de Cultura (29/09), mas estes temas foram minimizados pela necessidade de discutir ‘os grandes temas nacionais’. De positivo, a criação do Conselho Municipal de Cultura, que deve se apropriar deste debate, para salvar o Encontro Municipal, realizando este, impreterivelmente, no primeiro semestre (e não junto com a Festa de Santo Antônio), fazendo-o retornar para sua data sagrada em 2011.

:: FALTA UMA POLÍTICA CULTURAL

Com todo o respeito que temos pelos que fazem a administração municipal, e eles sabem que estas críticas são fraternas, o que falta em Propriá é uma política cultural, construída a partir de um processo amplo de debate que envolva o conjunto dos artistas, dos atores sociais do universo cultural (e Propriá tem um forte repertório, aqui dentro e fora desta cidade). Não é por falta de recursos que se deixa re realizar uma festa que é referência nacional, pois os recursos que serão deslocados para pagar a banda Calcinha Preta (que segundo eco geral toca e canta em aniversário de boneca, despedida de solteiro, e festas em tudo que é cidade, povoados, festas de times de futebol), daria para garantir a realização do XXV Encontro Cultural. “O que falta é vontade política e identidade cultural”, indignou-se uma ativista cultural que preferiu preservar seu nome.

:: MURAL DE RECADOS:

“Realmente não dá pra continuar calada. Festival de Cultura de Propriá? Cadê? Agora: Carnaval antecipado... Um Pré CAJU A LÁ PROPRIÁ...ou outro título!!! Caberia bem ao que vem acontecendo com este Projeto de Festival de Cultura. Sinto-me a vontade em falar por ter sido uma das mentoras desse fantástico projeto quando da sua criação. Infelizmente os gestores municipais se perderam na História e nos conceitos de festivais ou mostras culturais. Caros conterrâneos sinto muito...Confesso saudades!!! Acompanho de longe as diversas ações realizadas neste município de tamanha grandeza cultural ... Axê pra todos! Como dizem alguns amigos faço parte da geração dos DINOSSAUROS LUTADORES CULTURAIS DE PROPRIÁ E DO ESTADO...Sou Cariri, sou de Propriá” (Tereza Cariri)

:: 17.805 ACESSOS 2004

Conforme temos registrado nas últimas publicações da Coluna ‘Fique de Olho’, hoje informamos que a Tribuna da Praia foi acessada por 3911 internautas no mês de dezembro de 2004, oito meses depois de colocá-la no ar, uma média de 126,1/dia, contra os 124,2/dia do mês anterior. Somados os 13.894 de abril, maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro e novembro de 2004, atingimos um total de 17.805 no primeiro ano de operação. Atualmente a nossa freqüência diária é de 3741 acessos/dia, dados atualizados após a informação da média mensal de outubro, novembro e dezembro de 2009. Nas próximas edições, informaremos a freqüência dos meses de 2005, nosso segundo ano de operação.

:: FRASE DO DIA:

“Quando todos pensam igual é por que ninguém está pensando”. (Walter Lippmam)

:: ANTERIORES ¹:

24/01/2010 – Sindicato cobra diálogo com Paulo Britto
17/01/2010 – Povoado Alagamar: Cultura e Tradição
16/01/2010 – 150 anos da visita de D. Pedro II a Pirambu e ao Canal do Pomonga

¹ Nota: As postagens anteriores, incluindo esta, estão em nosso Site Oficial: http://www.claudomir.com.br.
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* Claudomir Tavares (41) é professor de Sociedade e Cultura da Escola Municipal Mário Trindade Cruz (Pirambu), de História, Filosofia, Cultura Sergipana no Colégio Estadual Joana de Freitas Barbosa (Propriá). Licenciado em História pela UFS (2002), com Pós Graduação em Gestão de Recursos Hídricos (Aperfeiçoamento – Concluído - 2007/2008 / Cursando Especialização – 2009/2010) pela UFS e Didática e Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade São Luís de França (2006). Foi secretário geral (2007/2008) e presidente (2008/2010) do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Japaratuba, membro fundador da Sociedade Sócio-Ambiental do Vale do Japaratuba - SOS Rio Japaratuba (desde 1998), presidente municipal (desde 2008) e secretário estadual de Assuntos Parlamentares do Partido Verde (da Executiva Estadual desde 2005) e Diretor-Fundador do Jornal Tribuna da Praia (Impresso desde 1983 e Online desde 2004). Mantém site, blog, twitter, perfil e comunidade no Orkut.

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